Recontando passagens da infância de Fernando Sabino através do filtro da imaginação do próprio escritor, O Menino no Espelho não é um filme de trama, mas de situações: há, sim, um antagonista, mas apenas como comentário de uma realidade política que a criança percebe à distância, sem compreender muito, mas sentindo o efeito da tensão que esta gera em seus pais. Com isso, o longa se estabelece como uma experiência de olhar infantil que faz o espectador enxergar o mundo como seus pequenos heróis, que encontram imenso prazer em atos prosaicos como falar através de um telefone de lata, roubar manga no quintal de uma casa abandonada ou correr pela rua.
Com isso, ao longo da projeção, enquanto o público infanto-juvenil se vê refletido na tela (se não no tipo das brincadeiras, ao menos no impulso imaginativo), os adultos são levados a mergulhar novamente numa época marcada por cortes frequentes nos joelhos (o machucado clássico da infância), pelo pavor diante de um “Eu te espero na saída da escola!” e por paixões pré-adolescentes que confundiam por acometerem quem ainda não tinha experiência, vivência ou maturidade para compreender a natureza de um sentimento tão súbito e intenso.